O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou, em depoimento prestado nesta sexta-feira (23) ao Supremo Tribunal Federal (STF), que nunca participou de reuniões com Jair Bolsonaro para discutir a chamada “minuta golpista” e que o então presidente demonstrava disposição para entregar o governo ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a derrota nas urnas.
Vice-presidente de Bolsonaro entre 2019 e 2022, Mourão acabou preterido na campanha à reeleição, sendo substituído na chapa pelo general Walter Braga Netto. O depoimento do senador ocorreu no âmbito da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado, na qual foi indicado como testemunha pelo general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
BOLSONARO NÃO FALOU EM RUPTURA, DIZ MOURÃO
“Em todas as oportunidades, em nenhum momento ele [Bolsonaro] mencionou qualquer medida que representasse ruptura do status quo. As nossas conversas sempre foram em torno da transição”, disse Mourão. Ele relatou ainda que, no dia seguinte ao segundo turno, foi ao Palácio do Planalto e informou a Bolsonaro que entraria em contato com Geraldo Alckmin, então vice-presidente eleito, para iniciar o processo de transição.
“Bolsonaro estava pronto para entregar o governo ao presidente recém-eleito”, afirmou.
8 DE JANEIRO E REDES SOCIAIS
Questionado sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, Mourão afirmou que estava em casa, “dentro da piscina”, e declarou não ter conhecimento de qualquer participação de Bolsonaro ou de ex-integrantes do governo nos ataques que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.
Ele também negou ter sofrido pressão direta para aderir a uma articulação golpista, embora tenha relatado ser alvo frequente de ataques virtuais. “Sou vítima de ataques constantes na internet. Faz parte do jogo político. Mas tenho certeza que não partem de companheiros que tive dentro do Exército, partem desses grupos que vicejam nesse pântano das redes sociais”, afirmou.
RELAÇÕES COM MILITARES ACUSADOS
Durante o depoimento, Mourão disse manter uma amizade de mais de 40 anos com os militares que integram o chamado “núcleo crucial” da suposta organização criminosa responsável pela tentativa de golpe — e que atualmente são réus no STF.
Sobre Augusto Heleno, afirmou que o general sempre foi respeitado e dava o exemplo dentro do Exército. “Aquilo que ele exigia dos subordinados, exigia de si mesmo.”
Em relação a Braga Netto, a quem substituiu como vice na eleição de 2022, descreveu como um militar brilhante, com uma “carreira extraordinária”.
Já sobre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e atualmente delator, Mourão revelou um laço pessoal. “Conheço desde criança. Considerava como um filho.”
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