A empresa Uber do Brasil Tecnologia, com sede em São Paulo, está sob os holofotes após uma notificação emitida pelo Ministério Público da Paraíba. O motivo? A prática de Racismo Religioso por parte de motoristas que utilizam o aplicativo da empresa para prestar serviços na cidade de João Pessoa.
A notificação, inserida na Notícia de Fato 002.2024.016457, foi instaurada pela promotora de Justiça Fabiana Maria Lobo da Silva, responsável pela defesa da cidadania na capital paraibana. O procedimento teve início após uma líder da religião de matriz africana candomblé denunciar, através de uma reportagem jornalística, a ocorrência de racismo religioso.
Segundo a reportagem, uma integrante de um terreiro localizado na capital solicitou um transporte via Uber na última segunda-feira (25/3). Entretanto, o motorista acionado enviou uma mensagem à usuária do serviço com conteúdo racista religioso e cancelou a corrida.
Essa não foi uma ocorrência isolada. A denunciante, uma mãe de santo, relatou que essa prática é recorrente e ressaltou a importância de não se calar diante do preconceito enfrentado pelas pessoas integrantes da religião.
A promotora Fabiana Lobo explicou que o caso será investigado em duas esferas: criminal e cível. Na esfera criminal, um boletim de ocorrência já foi registrado na delegacia. Quanto à esfera cível, o procedimento instaurado pela Promotoria visa apurar a responsabilidade da empresa Uber.
A empresa não só terá que esclarecer o incidente em questão, mas também fornecer informações sobre relatos anteriores de situações similares. Outros religiosos já manifestaram que, ao solicitarem corridas através do aplicativo e identificarem-se como provenientes de um terreiro, as corridas são canceladas. No caso específico em questão, além do cancelamento, o motorista enviou uma mensagem contendo teor racista.
Esse episódio levanta importantes discussões sobre discriminação religiosa e a responsabilidade das empresas em coibir tais práticas entre seus colaboradores. Acompanharemos de perto o desenrolar desse caso e as medidas que serão tomadas para garantir a justiça e o respeito à diversidade religiosa em nossa sociedade.
O que é “Racismo Religioso”?
O racismo religioso é uma forma de intolerância ou discriminação religiosa que está enraizada em preconceitos raciais contra uma fé ou crenças em particular. No Brasil, ativistas usam a expressão “racismo religioso” para se referir à discriminação contra religiões afro-brasileiras como o Candomblé e a Umbanda.
Nas palavras de algumas concepções africanas, a palavra é regida pelo elemento fogo. Ela pode tanto queimar quanto aquecer. É por isso que ativistas e defensores de direitos humanos ligados ao movimento negro reconhecem a importância de refletir sobre termos amplamente absorvidos pelo senso comum. No Brasil, país estruturado pelo racismo, o termo “intolerância religiosa” não é suficiente para descrever as violências sofridas pelas pessoas que cultuam orixás, povos da rua e outras entidades que não cabem no imaginário ocidental. Torna-se necessária a busca por outra expressão que dê conta de nomear essas violências de forma a não deixar dúvidas sobre a quem elas se direcionam. Nesse sentido, o termo “racismo religioso” parece muito mais adequado para definir uma prática que ameaça a liberdade e a existência dos povos de terreiro há séculos .
Na definição da cartilha Terreiros em Luta, racismo religioso é um conjunto de práticas violentas que expressam a discriminação e o ódio pelas religiões de matriz africana e seus adeptos, assim como pelos territórios sagrados, tradições e culturas afro-brasileiras . Essas violências têm como alvo certo os praticantes dessas religiões e seus espaços sagrados, e muitas vezes, a legislação e políticas públicas não são suficientes para protegê-los.
Portanto, é fundamental combater o racismo religioso e promover a conscientização sobre a diversidade religiosa, respeitando e valorizando todas as crenças e tradições.